18/03/2007

Os Wilco chegam ao céu

Tenho um fraco pelos Wilco. Desde os tempos mais pop dos discos a meias com Billy Brag, mas sobretudo quando Jeff Tweedy e Glenn Kotche revelaram a faceta mais arty e experimental da banda, muito por influência de Jim O’Rourke, e sobretudo nos dois últimos e excelentes álbuns, “Yankee Foxtrot Hotel” (que roça mesmo a genialidade) e o mais obscuro e também mais intenso “A Ghost Is Born”, ambos produzidos precisamente por O’Rourke. Confesso que depois destes dois exemplares únicos, mas também depois do trabalho que Tweedy e Kotche têm desenvolvido nos Loose Fur, novamente com O’Rourke, que deu à luz um dos melhores e mais esquecidos álbuns de 2006, “Born Again in the USA”, a expectativa face ao novo Wilco era grande. E quando a expectativa é grande, a desilusão pode ser maior. E desilusão foi a primeira palavra que me veio à cabeça com a primeira audição dos 12 temas que compõem “Sky Blue Sky”. Tudo muito escorreito, muito certinho, muito pop. Faltaram-me as inconstâncias dos registos anteriores da banda, a predominância das guitarras eléctricas, o experimentalismo pop que faz os Wilco grandes. O panorama parecia negro, mas aos Wilco eu gosto de dar uma segunda, e até uma terceira hipótese. E foi precisamente à terceira que comecei a ver o céu azul. As melodias, que os Wilco são peritos a compor, começaram a evidenciar-se. A beleza e o romantismo que assoma todo o disco começou a envolver-me. O encanto de quem sabe como ninguém escrever canções começou a encantar-me. Não é com certeza o disco dos Wilco que eu levaria para a tal ilha deserta. Mas é um grande disco de grande pop, com momentos que dão as boas vindas à primavera que já se cheira no ar. ”Hate it Here” é o exemplo acabado do que os Wilco sabem fazer melhor. E se Tweedy e Kotche souberam e muito bem aproveitar o que Jim O’Rourke tem de mais genial para oferecer, parece que agora a nova faceta dos Wilco se chama Nels Cline, que começou a dar os seus préstimos à banda em 2004. Para os menos prevenidos, Nels Cline é apenas um dos melhores guitarristas vivos (pelo menos de acordo com a Rolling Stone). Já andou pelo jazz, por, rock, country e pela música experimental. Já tocou com Chalie Haden, Gregg Bendiam, Wadada Leo Smith, Tim Berne, Vinny Golia e Eri Von Essen. Já andou em tourné com o ex-Minutemen/Firehose Mike Watt, já tocou com vários membros dos Sonic Youth (tem mesmo dois discos a meias com Thurston Moore) e até com a lenda do country Willie Nelson. E há muito mais, mas fica para outra ocasião. “Sky Blue Sky” é assim um disco muito Jeff Tweedy, desde sempre a alma dos Wilco, com um cheiro a anos 70, uns pózinhos de Bob Dylan e muito pop-rock, com Nels Cline cada vez mais como parte integrante e inultrapassável da banda. O que faz deste disco, apesar das reservas iniciais, uma obra lindíssima. Agora só falta ver os homens ao vivo cá por estas bandas, até porque, segundo dizem, os Wilco são sobretudo uma grande banda ao vivo. “Sky Blue Sky” sai oficialmente no dia 15 de Maio na Nonesuch Records e a tourné começa na Austrália a 16 de Abril.

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