29/03/2007

Já agora, senhoras e senhores, John Fahey...

"In Christ There Is No East Or West" - belo título...

A Epifania de Glenn Jones

Glenn Jones é figura proeminente e guitarrista de uma das bandas mais ignoradas da contemporaneidade, os Cul de Sac, a quem pela primeira vez foi colado o epíteto de pós-rock. Desde 1989 até à data, os Cul de Sac editaram 9 álbuns, sempre instrumentais e cheios de texturas, magias e viagens que nos transportam a lugares muito especiais.

Mas Glenn Jones também é, desde há muitos anos, um aficionado da Escola de Takoma, onde pontificou o genial guitarrista e recentemente falecido John Fahey, de quem Jones foi amigo durante 25 anos, e com quem os Cul de Sac gravaram uma obra de arte chamada “The Epiphany of Glenn Jones” (1997).

Em 2004 Glenn Jones saiu (momentaneamente) debaixo da sombra dos Cul de Sac e da sua admiração pelos visionaries da Escola de Takome e afirmou o seu próprio estilo. O resultado foi um conjunto de maravilhosas melodies para guitarra acústica de 6 e 12 cordas, com o nome de “This Is the Wind That Blows It Out”. Os afortunados (como eu…) que ainda durante esse ano tiveram a sorte de assistir a um concerto na Zé dos Bois, em que Glenn Jones demonstrou a sua arte, na companhia de outro brilhante guitarrista, Jack Rose, puderam experimentar ao vivo a emoção de ver tocar guitarra na perfeição.

Em 2007 a perfeição continua. Glenn Jones regressa aos discos com as suas guitarras mágicas para uma nova visão de Takoma: “Against Which the Sea Continually Beats”. Uma visão ainda mais cinemática, ainda mais folk, ainda mais elaborada, ainda mais inspirada. Uma obra-prima de guitarra-solo por um músico único.

Nos três vídeos que se seguem (são sequenciais), a visão de Glenn Jones torna-se mais clara. E acredito que todos os que virem, não vão deixar escapar outra oportunidade de o ouvir ao vivo, caso Portugal volte a ter a sorte de o receber noutro concerto intimista.



Benni Hemm Hemm, directamente das fiordes islandesas.


Acabei de descobrir Benni Hemm Hemm. Confesso que à partida estava um bocado reticente relativamente a este projecto islandês, país que nos deu música tão depressiva e exótica como Sigur Ross ou Bjork. Confesso que não estava nada à espera de encontrar uma banda pop tão alegre e festiva proveniente de um dos países mais frios do planeta. E como gosto de surpresas, ainda mais quando esta pop orquestral (Não me sai da cabeça Sufjan Stevens...) é quase integralmente cantada num islandês que quase parece japonês. Aliás não me admira nada que os Benni Hemm Hemm tenham muitos fãs no país do sol nascente, eles que são muito dados a estas coisas kitsch que a pop tem. Porque tem um front-man de seu nome Benedikt H. Hermannsson, secundado por uma big band de 17 músicos que dão vida a mil e um instrumentos, capaz de provocar mil e um sentimentos. "Kajak" é o terceiro disco da banda, acabado de editar na alemã Morr Music. Uma festa melancólica da qual Brekkan ºé apenas um exemplo para quem quiser descobrir mais.

27/03/2007

Quem vai ao enterro?

Feito e refeito de modas e de “next big things”, anda por aí no universo musical uma nova moda que dá pelo nome Burial. Chamam-lhe uma data daqueles palavrões que os críticos de música gostam de inventar para novas músicas. Chamam-lhe dubstep. Chamam-lhe groove cavernoso. Chamam-lhe catarse. Até lhe chamam uma lenda musical urbana. Não me entendam mal. Eu gosto de coisas novas. E de coisas diferentes. E de coisas radicais. Não tenho é muita paciência para modas, nem para “next big things”. Nem para apanhar secas. Nem para ouvir do princípio ao fim o mesmo princípio e o mesmo fim. Com uma batidas de vez em quando para (tentar) aquecer os ruídos de fundo. Para mim é de facto um enterro ouvir Burial, até porque a procissão não me leva a lado nenhum. Quanto muito tem uma qualidade soporífera agradável. Mas felizmente que há música para todos os gostos. Por isso, quem quiser ouvir que julgue por si próprio.

26/03/2007

Eleni Mandell - "Girls"

Carla, there are girls, girls, girls, but there is only you. Aqui fica um hino à nossa nova descoberta.

Mozart - Requiem Lacrimosa

Uma das mais belas peças de música alguma vez imaginada pelo homem, para dar música a mais um momento triste da história deste triste país, que parece não aprender nada. Salazar ganhou o concurso Grandes Portugueses. Provocação ou não, provocar o fascismo nunca deu resultado. E o mais triste é que ninguém vai ter coragem de afirmar que votou em Salazar, ao contrário de todos os que o combateram de peito aberto. Por isso mesmo, os portugueses e Portugal só merecem mesmo um Requiem. E a Lacrimosa é a lágrima que cai pelos brandos costumes... Ou será branda idiotice?

23/03/2007

John Zorn / Electric Masada - Karaim (part 2)

Para continuar o fim de semana a abrir....

John Zorn / Electric Masada - Karaim (part 1)

Para começar o fim de semana a abrir.

Nem White nem Sonic...

Realmente parecia bom demais para ser verdade, mas os festivais voltaram a pregar uma partida e afinal já não há White Stripes nem Sonic Youth para ninguém no Super Bock Super Rock deste ano. E eu que já me estava a preparar para a moxe...

20/03/2007

The Simpsons vs. The White Stripes

Para celebrar aquilo que parece ser (finalmente) a primeira visita dos White Stripes a Portugal e o regresso da banda aos discos ("Icky Thump" está previsto para Junho próximo), nada melhor do que um encontro de titãs. Os Simpsons brilhantes como sempre.

Por falar em concertos...

Já critiquei aqui os festivais e de facto não é causa que me entusiasme. A menos que aconteça um milagre, como o que parece que vai acontecer no dia 4 de Julho do Super Bock Super Rock deste ano:

Sonic Youth, White Stripes, LCD Soundsystem e Maxïmo Park

Isto sim vai ser uma barrigada.

Mais concertos

Aqui ficam mais duas datas a que vale a pena ficar atento. Já não me lembrava de uma temporada pré-festivaleira tão abundante:

Joanna Newson na Aula Magna (2 Maio)
Low no Santiago Alquimista (2 Junho)

19/03/2007

GRANDES VERSÕES - Sound and Vision by The Sea and Cake

Enquanto aguardo o novo The Sea and Cake, de seu nome "Everything", aqui fica uma grande versão de "Sound and Vision" de David Bowie. Ou talvez uma versão kitsch.

18/03/2007

Os Wilco chegam ao céu

Tenho um fraco pelos Wilco. Desde os tempos mais pop dos discos a meias com Billy Brag, mas sobretudo quando Jeff Tweedy e Glenn Kotche revelaram a faceta mais arty e experimental da banda, muito por influência de Jim O’Rourke, e sobretudo nos dois últimos e excelentes álbuns, “Yankee Foxtrot Hotel” (que roça mesmo a genialidade) e o mais obscuro e também mais intenso “A Ghost Is Born”, ambos produzidos precisamente por O’Rourke. Confesso que depois destes dois exemplares únicos, mas também depois do trabalho que Tweedy e Kotche têm desenvolvido nos Loose Fur, novamente com O’Rourke, que deu à luz um dos melhores e mais esquecidos álbuns de 2006, “Born Again in the USA”, a expectativa face ao novo Wilco era grande. E quando a expectativa é grande, a desilusão pode ser maior. E desilusão foi a primeira palavra que me veio à cabeça com a primeira audição dos 12 temas que compõem “Sky Blue Sky”. Tudo muito escorreito, muito certinho, muito pop. Faltaram-me as inconstâncias dos registos anteriores da banda, a predominância das guitarras eléctricas, o experimentalismo pop que faz os Wilco grandes. O panorama parecia negro, mas aos Wilco eu gosto de dar uma segunda, e até uma terceira hipótese. E foi precisamente à terceira que comecei a ver o céu azul. As melodias, que os Wilco são peritos a compor, começaram a evidenciar-se. A beleza e o romantismo que assoma todo o disco começou a envolver-me. O encanto de quem sabe como ninguém escrever canções começou a encantar-me. Não é com certeza o disco dos Wilco que eu levaria para a tal ilha deserta. Mas é um grande disco de grande pop, com momentos que dão as boas vindas à primavera que já se cheira no ar. ”Hate it Here” é o exemplo acabado do que os Wilco sabem fazer melhor. E se Tweedy e Kotche souberam e muito bem aproveitar o que Jim O’Rourke tem de mais genial para oferecer, parece que agora a nova faceta dos Wilco se chama Nels Cline, que começou a dar os seus préstimos à banda em 2004. Para os menos prevenidos, Nels Cline é apenas um dos melhores guitarristas vivos (pelo menos de acordo com a Rolling Stone). Já andou pelo jazz, por, rock, country e pela música experimental. Já tocou com Chalie Haden, Gregg Bendiam, Wadada Leo Smith, Tim Berne, Vinny Golia e Eri Von Essen. Já andou em tourné com o ex-Minutemen/Firehose Mike Watt, já tocou com vários membros dos Sonic Youth (tem mesmo dois discos a meias com Thurston Moore) e até com a lenda do country Willie Nelson. E há muito mais, mas fica para outra ocasião. “Sky Blue Sky” é assim um disco muito Jeff Tweedy, desde sempre a alma dos Wilco, com um cheiro a anos 70, uns pózinhos de Bob Dylan e muito pop-rock, com Nels Cline cada vez mais como parte integrante e inultrapassável da banda. O que faz deste disco, apesar das reservas iniciais, uma obra lindíssima. Agora só falta ver os homens ao vivo cá por estas bandas, até porque, segundo dizem, os Wilco são sobretudo uma grande banda ao vivo. “Sky Blue Sky” sai oficialmente no dia 15 de Maio na Nonesuch Records e a tourné começa na Austrália a 16 de Abril.

13/03/2007

DEAD CHILD


Sou fã de David Pajo. Descobri-o quando comecei a tomar o gosto à cena de Chicago no início da segunda metade da década de 90. O primeiro disco que ouvi dele foi “Aerial M”. Nesta altura, e por iniciativa própria, enviei-lhe um mail para o site dele e fiz-lhe uma entrevista online. A partir daí nunca mais perdi Pajo de vista. Fui ao passado dele e descobri a sua participação em duas das mais marcantes da tal cena de Chicago: os Slint e os Tortoise. Fui ao futuro e abracei todas as suas colaborações com o mago Bonnie Prince Billy – para quem esteve atento, Pajo até esteve no concerto de BPB na Zé dos Bois. Até vasculhei os Zwan, onde Pajo deu os seus préstimos ao melga do Billy Corgan. Para mim, o seu mais recente álbum sob o nome PAJO, de seu nome “1968”, foi um dos melhores, senão mesmo o melhor disco de 2006. Aliás, por ocasião da edição deste disco tive o prazer e voltar a entrevistá-lo. Na minha quimera do Pajo, a mais recente adenda chama-se Dead Child e é mais uma prova de que o homem adapta-se a qualquer género musical. Se em nome próprio David Pajo anda pelo country-folk melódico e obscuro, de uma beleza estonteante, nos Dead Child vira-se para o heavy metal (é o que está no my space da banda), na companhia do baterista Tony Bailey, do baixista Todd Cook, do guitarrista Michael McMahan e do vocalista Dahm. Um projecto que deve dar em disco ainda este ano e que reflecte a música que os influencia: Metallica dos primeiros tempos, Iron Maiden e Judas Priest. Estranho? É ver os seguintes videos da banda ao vivo e tudo se torna mais claro. Ou pelo menos mais barulhento.







12/03/2007

Linda-a-Velha hardcore!!!

No final da década de 80, quando andava na entretanto desaparecida Escola Secundária Belém-Algés (ficava onde hoje acaba a CRIL em Algés), tive o prazer de conhecer muitos cromos de Linda-a-Velha, alguns dos quais adicionei à minha colecção de bons amigos. Um deles é o Filipe Leote, por quem os anos passaram, como passaram por todos nós, mas cuja passagem só se vê nos cabelos brancos que já lhe abundam na cabeça. De resto, o espírito do Leote continua a ser o mesmo que marcou (e pelos vistos ainda marca) a irreverência de toda a cena musical de Linda-a-Velha, assim como a sua constante procura de sonoridades novas e novas experiências (quanto mais radicais melhor), para além, claro está, do nosso Benfica e da chama vermelha de esquerda que sempre aqueceu as nossas discussões politicas. Andou pelos Liris Cumbrus, pelos Kromleqs e mil e outros projectos por onde ainda anda. Um dos mais recentes, iniciado em 2005, marca um regresso às origens hardcore de Linda-a-Velha e ao seu instrumento de eleição, o baixo. São os Fritos e estão a preparar-se para editar um EP, com um nome tão sugestivo como o da banda (“Tiras de Milho”), ambos verdadeiramente leotianos (só entendível para quem o conhece). Os Fritos são um power trio na verdadeira acepção da palavra, com o Guta na guitarra e na voz, o Gustavo na bateria e o Leote no baixo e voz. “Tiras de Milho” é composto por 4 temas (“A Próxima”, “Castigo”, “Lua-de-Mel” e “Identidade”) e pouco mais de 13 minutos, todos eles cheios de energia e com promessa de boas moxes. Longe vão é os tempos das produções manhosas, já que apesar de caseira, a produção destas “Tiras de Milho” foi feita com óleo novo. O primeiro ponto de contacto está em Fritos, e quando souber de concertos aviso.

09/03/2007

Eu vou... Ou vou tentar ir... Ou gostava de ir mas ainda não sei se tenho tempo e/ou dinheiro para tudo...

Bonnie Prince Billy + Faun Fables - 5 Abril - Maxime
Cult of Luna - 22 Abril - Cine Teatro de Corroios
Akron Family - 22 Abril - Music Box
Ghost - 3 Maio - LUX
White Magic - 4 Maio - Maxime
Pelican - 31 Maio - Santiago Alquimista
Jack Rose - 4/5 Junho - Zé dos Bois
Beastie Boys - 10 Junho

Infelizmente, os Red Sparowes parece que ficaram sem efeito...

Hail to the Kong

No final dos anos 80, início da década de 90, Ethan Buckler fez parte de uma das bandas mais marcantes do rock americano e propulsora do movimento efervescente que se fez sentir no eixo Louisville-Chicago nessa época: os Slint. Os King Kong surgiram em 1989, ainda com os Slint no activo, na altura em que Ethan Buckler escreveu um ensaio sobre aquilo que a personagem King Kong representa para a sua filosofia de vida. O facto de King Kong ser grande, primitivo, natural e sobrenatural, funky, freak, peludo, incompreendido, bruto e gentil, apaixonado, africano, trágico, etc,. Tem supostamente tudo a ver com a música que Buckler queria fazer. E desta inspiração surgiu o som funky, divertido, repetitivo, rítmico, melódico, hipnótico, misterioso, blues, emocional e conceptual dos King Kong. Sempre com a voz quente e cavernosa de Buckler a marcar compasso. Desde então a banda tem editado (ir)regularmente e sempre numa toada muito low profile: “Old Man on the Bridge” (1991), “Funny Farm” (1993), “Me Hungry” (1995), “Kingdom of Kong (1997), Breeding Ground (2001), The Big Bang (2002). Desde último disco para o que acaba agora de ser editado houve um hiato de 5 anos em que a tribo Kong se recolheu na ilha perdida, onde sacrificou inúmeras louras esbeltas até chegar ao resultado final e apetitoso, que vê agora a luz do dia com o sugestivo nome “Buncha Beans”. Um disco anti-conceptual, segundo o próprio mentor da banda. Um disco de rock tribal, com momentos de muito boa disposição (Bug Make) e um forte sentimento de honestidade. Sente-se que os King Kong são aquilo que são. Não há máscaras, nem duplos sentidos: “just plain old rock’n’roll”.

07/03/2007

Shining – “Grindstone”


Os Shining são uma banda norueguesa. Em tudo o resto é difícil defini-los. Jazz? Rock? Trash? Experimental? Contemporâneo? Clássico? É impossível ficar indiferente e não há um segundo de descanso. Tanto somos erguidos do chão e projectados violentamente contra a parede, como ao mesmo tempo ficamos estarrecidos a tentar descobrir as texturas mais invisíveis que essa parede nos apresenta. Um colosso sonoro que cobre um largo espectro, de Slayer a X-Legged Sally, passando por King Crimson, Ornette Coleman, Ligetti, Mahavishnu Orchestra ou Henry Cow. Até faz justiça ao nome, já que tem a atmosfera doentia do livro de Stephen King e do filme de Stanley Kubrick. Mas afinal quem são realmente os Shining? São o multi-instrumentista, compositor e mentor Jørgen Munkeby, que no passado andou pelos Jaga Jazzist; o baterista Torstein Lofthus, um dos mais requisitados no meio musical norueguês; o teclista Andreas Hessen Schei, também ex- Jaga Jazzist; e o baixista Morten Strøm, recentemente importado para as fileiras dos Shining. “Grindstone” é o quarto disco da banda, acabado de editar na Rune Grammofon, uma editora dedicada a divulgar a música mais criativa que é produzida hoje em dia na Noruega, que não só aposta na música como no design único das suas edições, a cargo do designer Kim Hiorthøy. “Winterreise” é o exemplo (in)acabado desta banda-sonora caótica do futuro. Ao vivo é qualquer coisa deste género: Oslo (2.11.2005).

05/03/2007

Bonnie Prince Billy & Faun Fables no Maxim


Por falar em Faun Fables e Bonnie Prince Billy: dia 5 de Abril, no Club Maxim, em Lisboa. A não perder. Isto começa a ficar bom dxe concertos. É aproveitar até ao Verão, que depois vêm os festivais e está tudo estragado.

Faun Fables "I'd Like To Be" - Uma fada na pradaria.

Muito mais do que a maravilhosa voz feminina que marca de uma ponta à outra o último "The Letting Go" de Bonnie Prince Billy, Dawn McCarthy é a alice no país das maravilhas que dá alma e espírito a um projecto que urge descobrir, os Faun Fables. Vejam o site da banda (www.faunfables.net) e descubram o significado do conceito "songtelling".

Arcade Fire ou Fogo de Vista?

Provavelmente estou a cometer um sacrilégio, mas a vida é mesmo assim e como não sou particularmente crente, é-me indiferente. Neste capítulo, só acredito mesmo que é a diferença de opiniões que faz avançar o mundo. À partida não escondo que simpatizei com os Arcade Fire aquando do primeiro disco - “Funeral” – que me trouxe à memoria os saudosos Talking Heads, com uma energia invulgar, muitas vezes épica. Mas a verdade é que ao fim de 3 ou 4 audições, pouco mais descobri de novo no disco e lá foi ele parar à prateleira dos esquecidos. O novo “Neon Bible”, apesar de muito louvado na imprensa nacional (basta consultar a histeria colectiva no Público de sexta-feira passada e no último Expresso), a mim só veio confirmar o que tinha sentido quando assisti ao “Funeral”: os Arcade Fire são poderosos, têm um apurado sentido melódico e devem ser de facto imponentes ao vivo - quem não esteve o ano passado em Paredes de Coura, como eu, vai poder comprová-lo no dia 3 de Julho em Lisboa, durante o próximo Super Bock Super Rock, e eu faço tenções de ir ver, porque fiquei curioso. Contudo, a mim as músicas dos Arcade Fire acabam por soar todas mais ou menos ao mesmo, e neste disco ainda mais do que no anterior: a cadência é praticamente sempre a mesma; os instrumentos aparecem todos ao mesmo tempo; a voz do vocalista não é muito versátil e não sai do mesmo registo. Ou seja, há poucos altos e baixos, aqueles que tornam a música perturbante, marcante e perene. Ou seja, o néon da bíblia dos Arcade Fire tem um brilho intenso, mas que em mim se apaga rapidamente. Serei o único?

02/03/2007

MEMORIAL DO CONCERTO #4 – Fugazi no Garage

Lá pelos idos de 1995, estava eu a atravessar a Av. da Liberdade e a subir a Alexandre Herculano quando os meus olhos se desviaram para os tapumes de uma obra (quem sabe do metro da Rotunda...), onde estavam afixados cartazes de espectáculos. E qual não foi o meu espanto quando vi um cartaz completamente preto, com letras garrafais e em caixa alta a branco que liam FUGAZI. Na altura a fartura era tão pouca (não que agora seja muito maior, mas não tem comparação) e a promessa era tão boa que segui o meu caminho fascinado com a promessa de um grande concerto de uma das melhores bandas hardcore de todos os tempos. E comecei logo a fazer uma lista dos amigos que tinha de avisar. Após vários telefonemas lá reuni uma trupe que se deslocou ao Garage, em Alcântara, no primeiro dia de Junho de 1995 (há 12 anos...). A sala não estava cheia e o ambiente estava repleto de pessoas que se conheciam mutuamente. O enquadramento não podia ser melhor e os Fugazi estiveram completamente à altura. A base foi o então recentemente editado “Red Medicine” e o recheio foi composto por muita energia, compassos e quebras de ritmo constantes, só possíveis a quem toca junto há muito tempo e que sabe o que está a fazer até de olhos fechados. Tipo aqueles jogadores de futebol que chutam a bola sem olhar para onde ela vai, porque sabem que alguém vai lá estar para a receber. Numa palavra: perfeito. Com todas as imperfeições que o hardcore tem de genial. Não me lembro de temas em particular (já lá vai muito tempo), mas lembro-me de que fiquei feliz pelo concerto (ainda hoje, muitos concertos depois, está no meu top 10) e pelos amigos que não conheciam Fugazi e que no final demonstravam claros sinais de surpresa e plena satisfação. E lembro-me, ou estou a tentar lembrar-me, que Ian MacKaye, Brendan Canty, Joe Lally e Guy Picciotto tocaram uma das melhores canções rock de todos os tempos (“Repeater”), que por acaso dá título a um dos melhores álbuns rock de todos os tempos e que por acaso até arranjei um exemplar ao vivo no You Tube, por acaso também de 1995 (em Montreal). Entretanto, os Fugazi estão em banho-maria desde 2001, data do último registo “The Argument”, mas continuam a ocupar um lugar muito especial na minha memoria e lá volto a eles de vez em quando. Quem sabe talvez eles voltem aos discos e, já agora, a Portugal. Valia bem a pena.

 
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