28/10/2007

Um bolo doce num mar calmo


Os The Sea And Cake estão longe de ser uma banda estranha para mim. Descobri-os há 10 anos, pouco depois de me ter começado a aventurar nos territórios do pós-rock, com particular ênfase para a cidade de Chicago, que tive a feliz oportunidade de visitar nesse mesmo ano de 1997.

Os The Sea And Cake surgiram-me na sequência dos Tortoise e da minha busca de tudo o que tivesse a ver com John McEntire. E para minha grande surpresa na altura, os The Sea And Cake apresentaram-me uma faceta pop que para mim haverá de ficar sempre associada a esta banda: um pop elegante, cosmopolita, intelectual, muito bem tocado e muito chicaguiano. Em suma, pop art feita música.

O concerto de ontem, dia 27 de Outubro, na ZDB, também não foi novidade para mim, já que foi a terceira vez que tive a oportunidade de ver e ouvir The Sea And Cake ao vivo, se bem que, e aí sim o concerto de ontem foi novidade, pela primeira vez os vi como cabeça de cartaz. E ontem mais uma vez constatei que se a música dos The Sea And Cake é grande em disco, ao vivo ela é muito maior. Sam Prekop, Archer Prewitt, Eric Claridge e John McEntire podem parecer fisicamente poucos expressivos em palco, a que não é com certeza alheio o facto de já serem quarentões com muitos anos de palco às costas, mas a música que emana dos seus instrumentos tem uma expressividade impressionante. Bastava-me o primeiro acorde para reconhecer de imediato o tema que aí vinha, que só reconheço mesmo pela sonoridade e não pelo nome, porque aliás toda a música dos The Sea And Cake é um contínuo que flui uma música atrás da outra, que já vai em 7 álbuns, 15 anos de carreira e uma imagem de marca que é só deles.

O concerto foi assim uma viagem por toda a discografia da banda. A canção que eu levava pronta a pedir a plenos pulmões (“Jacking The Ball”, o primeiro tema do primeiro disco) foi logo lançada ao fim de 3 ou 4 músicas, para um gáudio adolescente que me perspassou a coluna. Comecei então a pensar numa segunda hipótese, a que a banda também não deu hipóteses. Pouco depois da primeira «desfeita», lá estavam eles a cantar o primeiro tema do primeiro disco que ouvi dos The Sea And Cake: “Sporting Life” de “The Fawn”. Só estes dois pormenores já serviram para cumprir as minhas expectativas, mas ouve muito mais, com destaque para as duas jams fantásticas que emergiram no final do concerto e no único encore, que não teve outro porque o público desisitiu logo.

Quanto aos músicos, o baixista Eric Claridge marcou o ritmo de forma discreta, mas muito sentida. Foi curiosa a observação de um rapaz que estava atrás de mim: “oi gajo parece o meu pai”. A bateria de John McEntire saltou para a frente do espectáculo com uma demonstração impressionante de perícia, com contratempos constantes e ritmos pulsantes. Sam Prekop, que afavelmente me assinou o último disco da banda (“Everybody”) que comprei no final do concerto, aparenta uma timidez na pose, na guitarra americano-suave e na voz delicodoce, que não se coaduna com a sua longa experiência (onde pontuam os míticos Shrimp Boat), nem com a sua aparência seca e ariana. Archer Prewitt assume completamente o seu papel de segunda linha nos The Sea And Cake, se bem que tenha sido seu o leme nas duas jams atrás referidas, onde ficou demonstrado que um dos encantos maiores desta banda está no entrelaçar das guitarras de Prekop e Prewitt.

A noite de 27 de Outubro foi assim uma noite muito bem passada na companhia de um super-grupo que não se dá ares disso, que sabe muito bem o que faz e fá-lo na perfeição, com profissionalismo e uma alma que só o pop dos The Sea And Cake tem.

Uma palavra final para os espanhóis Litius que fizeram a primeira parte do concerto, um pouco longa demais (se calhar porque eu queria mesmo era ouvir os The Sea And Cake) e que só me prendeu a atenção nos momentos finais. Talvez ainda demasiado presos aos sons sincopados do pós-rock americano, que já estão algo datados, engradeceram-se precisamente quando introduziram alguns elementos novos (nomeadamente os sopros) e mais experimentais. Mas fiquei com vontade de ouvir mais em disco.

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